20 de abr. de 2009

Onde a Sun errou?

Companhia, conhecida como uma das mais inovadoras do mercado, falhou ao não focar sua atuação no desejo dos consumidores.

Por IDG News Service, EUA

Um pouco antes da bolha da internet, acontecimento que marcou a interrupção da expansão meteórica da Sun Microsystems, o então CEO Scott McNealy e o presidente Ed Zander promoveram um encontro para discutir o futuro da companhia.
Naquele momento, a empresa vendia cada vez mais servidores e era uma das companhias mais queridas da economia da internet. “Era um momento peculiar e artificial, quando a Sun era considerada um fornecedor imprescindível”, diz Jonathan Eunice, analista da Illuminata, relembrando o encontro de 2001. “E mesmo com a iminência da bolha, os dois executivos aparentemente não viam que algo errado poderia acontecer”, completa.
Para o analista, era um momento no qual todos os presentes sabiam que as coisas não iriam continuar tão boas como estavam. “Parece que somente os executivos da Sun não percebiam que aquele momento era para tomar decisões para garantir a longevidade da empresa”, afirma Eunice.

Os anos que vieram a partir daquele momento não foram bons para a Sun. A companhia, que cresceu com a venda de poderosos servidores Unix, começou a ser ameaçada pelos processadores x86, responsáveis pelo surgimento de servidores mais baratos e também potentes. O sistema operacional Linux, adotado pela IBM e pela Oracle, foi outro problema, pois surgiu como uma alternativa de baixo custo para o Solaris.
Esses acontecimentos estavam acima do controle da Sun, mas enquanto HP e IBM reforçavam seus negócios incorporando novas tecnologias e construindo um portfólio para o novo mercado, a Sun permanecia parada. O que se seguiu, de acordo com analistas e alguns dos antigos executivos da Sun, foi uma série de erros que deixou a companhia como está hoje: perdas de 1,9 bilhões de dólares nos últimos dois trimestres e queda de 9% na receita.
Foi uma queda inglória para uma empresa que já foi uma das mais inovadoras da história do Vale do Silício. “A situação é estranha, porque a Sun provavelmente foi a companhia com mais visão de futuro que eu já pude testemunhar”, disse John Crupi, CTO da empresa JackBe e ex-CTO da divisão de Web da Sun. “Eles eram muito bons na engenharia. O problema é que eles nunca conseguiram empacotar os grandes produtos que produziam em soluções para resolver problemas das empresas”, afirma.
Stephen Hultquist, um veterano da indústria e diretor da empresa de consultoria Infinite Summit, concordou que falta de inovação nunca foi o problema da Sun. A falha foi a falta de habilidade dos executivos de ir além daquela visão e dar aos consumidores exatamente o que eles queriam para tocar seus negócios.
“Qualquer companhia que não foque continuamente nos reais benefícios para seus consumidores, tanto atuais quanto os futuros, eventualmente perderá a participação na memória deles”, disse Hultquist. “As empresas compram o que faz sentido para elas, para seu sucesso e para sua satisfação, e não o que é melhor em sentidos técnicos e esotéricos. Se isso não fosse verdade, a Microsoft não teria o poder que tem hoje”, completa.
Um exemplo é a visão que a Sun teve de que “a rede é o computador”, como dizia seu slogan. Hoje, empresas como Salesforce.com e Google têm essa idéia mais do que digerida, mas rodam Linux em vez de Solaris em seus data centers.
A Sun também foi uma das primeiras a ver que o modelo de software por assinaturas iria substituir as licenças por CPU quando o modelo de processadores com vários núcleos começou a prevalecer. Mas quando ela começou a oferecer software no modelo, havia menos interesse em seus produtos baseados em Java porque os consumidores já estavam utilizando produtos da IBM.
Três erros fundamentais
Os principais analista identificaram os três principais erros que, se fossem evitados, possibilitariam à Sun continuar com seu crescimento: a falta de reação rápida ao Linux, que poderia ser feita abrindo o código de Solaris mais rápido do que fez, a não fabricação de um produto da linha x86 suficientemente rápido para competir com os sistemas Sparc e a falta de habilidade em monetizar a tecnologia Java.
A Sun iniciou suporte a Linux e lançou seu servidor x86, em 2003. Em 2004, iniciou o projeto OpenSolaris. No entanto, quando isso aconteceu, IBM e Oracle já haviam eliminado as preocupações dos consumidores sobre o suporte a um sistema operacional livre e já havia reduzido os custos das linhas x86, que faziam com que muitas empresas substituíssem o Solaris por Linux e Windows.
Joe Lindsay, vice-presidente de engenharia da empresa de mídia interativa Brand Affinity Technologies, acredita que a Sun poderia ter impedido o fenômeno Linux focando mais cedo nos seus negócios de software em vez de dar toda a atenção ao Harware.
“Se eles tivessem focados em se transformar em uma empresa como a Microsoft, vendendo sistemas operacionais e softwares que rodassem nele, talvez o Linux nem teria sido criado, pela falta de necessidade”, diz Lindsay. “Se o Solaris fosse algo acessível e disponível nos servidores como o Windows é no desktop, o Linux talvez nunca tivesse acontecido”
Lindsay deixou um emprego na IBM em 1995 para trabalhar em empresas com data centers da Sun. Naquele tempo, ele era um grande fã do Solaris. Hoje, ele trabalha principalmente com Linux e outras plataformas abertas não criadas pela Sun, embora a empresa tenha aberto quase todos os seus produtos.
Com o Java, a empresa falhou ao não criar um modelo lucrativo para o negócio, coisa que a IBM e outras empresas fizeram com sucesso. O Java foi criado como uma tecnologia em desenvolvimento, em 1995, mas a Sun só conseguiu colocar a casa em ordem em 2004, quando colocou todos os seus componentes de Java embaixo da JES (Java Enterprise Systems).
Quando isso aconteceu, a IBM e a BEA (hoje parte da Oracle) eram as duas únicas fornecedores de software baseados em Java com relevância no mercado, e o servidor de aplicativos de código livre JBoss – agora parte da Red Hat – estava no caminho de transformar os negócios que a Sun estavam desenvolvendo em commodities.
A Sun já tinha um servidor de aplicativos chamado iPlanet muito antes da formação do JES. No entanto, levou muito tempo para que este fosse compatível com o padrão Java EE, um importante critério para os consumidores. O detalhe é que o padrão foi criado pela própria Sun, mas a empresa comprou outras tecnologias e levou muito tempo para torná-las todas compatíveis.
O fato de ser extremamente inovadora também pode ter atrapalhado. Miko Matsumura, vice-presidente da Software AG, esteve cinco anos na Sun como um evangelista de Java e  diz que os executivos da Sun gostavam de ver choques intelectuais, pois dali sairiam novas idéias. “O problema é que muitas idéias surgiam, mas sem uma mensagem clara sobre como transformá-las em planos de negócios viáveis”, completa.
Última tentativa
O CEO Johathan Schwartz assumiu a empresa em Abril de 2006 para tentar tornar mais clara a direção da companhia e alinhar os produtos de software e hardware com o desejo dos consumidores. Sob Schwartz, a empresa abriu a maioria de suas tecnologias proprietárias, dando aos consumidores mais escolhas sobre como e onde aplicar as tecnologias.
“Essas atividades fizeram com que o negócio de softwares da companhia tivesse crescimento. Além disso, o segmento de Open Storage também teve sucesso, com 21% de crescimento ano a ano no quarto trimestre de 2008”, afirmava Noel Hartzell, porta-voz da Sun.
Hartzell disse ainda que a Sun trabalhou duro para reduzir custos e melhorar a eficiência operacional, economizando milhões de dólares nos últimos anos. A previsão era de que o último corte de custos, anunciado em novembro de 2008, poderia economizar mais 900 milhões de dólares para a companhia.
No entanto, cortes de custos não foram o suficiente para aumentar a lucratividade da Sun, culminando em uma negociação sem sucesso com a IBM e, finalmente, a sua venda para a Oracle.

Crise? Para eles isso não existe.

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