24 de abr. de 2009

JANELA INDISCRETA

Autumn, em português significa "outono", estação do ano em que as folhas caem deixando nuas as árvores. De certa maneira, esse nome previu o destino da fotógrafa norte-americana Autumn Sonnichsen, que se tornou especialista em tirar a roupa de mulheres bonitas e agora se mostra nua na série de auto-retratos que a FS publica com exclusividade nesta edição.
Essa californiana de 23 anos, morou em Los Angeles, Berlim, Cape Town, Cairo, Washington, Nova York, Paris e desde 2005 adotou o Brasil como casa. Ex-editora de fotografia da revista Ele Ela, autora de ensaios para publicações como Playboy, Maxxi, Nylon e Nico, no dia em que concedeu entrevista a FS havia acabado de chegar de viagem. Clicou as funcionárias da revista Trip nuas numa praia do Rio para a tradicional edição de dezembro em que a revista vira sua câmera para dentro da própria redação. O que os leitores da Trip não sabem, é que atrás daquela câmera que leva os homens ao delírio existe uma fotografa obstinada, que adora a arte da pornografia, gosta de mulheres bagunçadas e, que quando quer fotografar uma mulher nua, sempre consegue.
Como é possível você ter vivido em tantos lugares e falar tantas línguas aos 23 anos?
Saí de casa aos 16 anos. Nunca tive nada que me prendesse aos lugares. Ainda não tenho; sou uma pessoa sozinha. Trabalhava em Paris como assistente em um estúdio; fui para Berlim, Nova York. Trabalhei como assistente na África do Sul, mas me sentia meio mal. Queria aprender alguma coisa difícil, queria aprender árabe. Conheci um menino que me convidou para ir para o Egito. Fui com ele, mas é difícil trabalhar lá do jeito que eu trabalho, e acabei vindo para o Brasil.
E o lance de clicar mulheres nuas?
Eu sempre fotografei mulheres. Era meu tema desde as primeiras fotos. Eu comecei a trabalhar sério fotografando mulheres nuas aqui no Brasil. Antes eu fazia muito mais moda, mas agora ficou mais difícil fazer, porque as pessoas acham que eu quero fotografar todo mundo pelado. É complicado isso nas revistas. Quando eu só fazia moda, antes de toda essa fama de fotografar mulheres peladas, eu trabalhava mais. Acho que as pessoas me levavam um pouco mais a sério.
E essa fama de que você se envolve com as mulheres que você fotografa é verdadeira?
Tudo mentira (sorri ironicamente). As pessoas falam isso para vender revista. Eu não sou idiota. Sei que faço um bom trabalho, gosto do que faço e faço bem. Mas eu sei também que para a Playboy é mais legal ter uma menina de 23 anos que fica lá com as modelos tirando a roupa. Puro marketing. Eu gostaria de ser levada mais a sério, mas também não vou brigar por isso. Se é desse jeito que as pessoas querem me dar trabalho, ótimo; eu preciso trabalhar. Essa fama me atrapalha em parte, mas também me dá muita coisa.
Depois de clicar tantas mulheres nuas, como foi se auto-retratar assim? Quando você começou com isso?
Fiz alguns durante o meu primeiro curso de fotografia, aos 16 anos, do tipo "eu pelada no banheiro" etc. Não eram muito interessantes. Era mais para entender a máquina sem a vergonha de fazer fotos ruins de outras pessoas nuas. Hoje faço quando vejo algo bonito, uma luz, uma situação e não tenho modelos por perto.
O que te atrai na nudez?
Eu gosto de ver o povo em situações íntimas, íntimas de proposta. E uma foto de paisagem sempre fica mais interessante quando tem alguma pelada lá no meio de tudo. Helmut Newton falou isso. No meu trabalho, em geral, eu quero fazer uma coisa que tenha uma linha universal, que todo mundo possa entender. Quero fazer uma arte que até o cara que trabalha no posto de gasolina possa entender por instinto, mas que ao mesmo tempo o curador de um museu possa levar a sério.
De qual tipo de mulher você gosta?
Gosto de mulher bagunçada, com cabelos ondulados e olhos árabes.
Como você as convence a tirar a roupa?
Fácil. É só pedir. Pede com educação, pede "por favor". Toda mulher quer ser fotografada nua.
Ser mulher ajuda nessa hora?
Acho que não. Se eu fosse homem teria mais sucesso. Tipo aqueles fotógrafos de verdade, de jaqueta de couro, seduzindo todas as meninas. Tem muita sedução. Quando você faz uma foto, cria um clima, um ambiente para você e para ela. Isso às vezes importa mais que a luz. O que mais me interessa é fotografar meninas que não precisam ser seduzidas, pessoas que fazem pornô, prostitutas. Aí eu acho que faço meu trabalho mais forte, bonito e interessante.
Como você vê a arte da pornografia?
A arte da pornografia é uma coisa necessária. Está na hora de as pessoas darem valor a isso. Todo mundo vê, todo mundo quer. Eu gosto desse universo de pessoas que vendem o corpo. Sempre quis aplicar essa estética à moda. Fiz alguns editoriais com esse tema para revistas. Acho que é meu trabalho mais sério.
Você já foi fotografada nua por algum fotógrafo?
Já. Tenho vários amigos fotógrafos e todo mundo se fotografa, principalmente quando bêbados (risos). Além disso, eu nunca pediria a nenhuma modelo alguma coisa que eu mesma não faria. Este ano fiz com George Pitts um trabalho de que gostei muito. Não acho que estou bonita nas fotos, mas acho que ficou um trabalho muito honesto. Tem outros, de outros amigos, mas só esse eu levaria a sério mesmo, porque nos outros só me vejo como qualquer menina bonitinha e jovem.
Como acontecem as fotos? Explique o processo de criação do seu auto-retrato. Como você faz desde o começo? Como cria o clima para isso?
É uma coisa solitária. Quase todos os meus auto-retratos eu gostaria de ter feito com outra pessoa, só que não tinha mais ninguém lá. Então é um trabalho que se desenvolve sozinho. É sobre a solidão. Eu viajo muito, e faz muito tempo que não moro no meu país. Estou sempre sozinha, com ou sem o sentimento de solidão. Às vezes uso um tripé, quase sempre com o self-timer. Nunca tenho outra pessoa apertando o botão.
Como voce vê essa tendência de auto-retratos de amadores que inundam os flickers, fotologs etc? Por que as pessoas gostam tanto de se fotografar nuas e colocar as fotos na internet?
O mundo está muito sozinho hoje. As pessoas querem se sentir mais queridas, mais vistas, e de fato mais vivas. Para cada pessoa que vê a sua foto você vive um pouco mais. Você sabe que tem alguém que está interessado em você, por você. Alguém que te deixa comentários pedindo mais, que quer que você continue se fotografando, se mostrando, que você continue vivendo. É um raison d’etre, um instinto do animal humano de querer e ser querido. Eu coloco alguns auto-retratos no blog que tenho na revista Nerve (www.nerve.com). É impressionante como as pessoas querem ver isso. As pessoas me escrevem e pedem que eu coloque mais, não porque as fotos sejam lindas ou qualquer coisa assim, mas porque elas sabem quem eu sou. Não é que eu seja mais linda ou mais interessante que a média, mas me expor desse jeito para que a maioria das pessoas me veja significa que eu quero que elas me vejam. Que você, de repente, as quer e elas se sentem mais queridas. É uma espécie de doença, mas eu nem me importo tanto com isso. É um trabalho como qualquer outro.
Qual é o segredo de um bom auto-retrato?
Não tenho a menor noção.

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