8 de nov. de 2005

A Corrosão do Caráter X Fúria dos Terroristas Britânicos.

Um artigo publicado no jornal The New York Times e uma obra denominada pelo próprio Sennett como um ensaio-discussão.
Se pegarmos o artigo cujo nome completo é: Fúria dos terroristas Britânicos foi forjada no caldeirão do descontentamento, podemos dividir o mesmo em três partes.
A Fúria.
Os Terroristas.
O Descontentamento.
Na fúria temos uma violência irracional, para os afetados claro, pois não consideram a racionalidade político-religiosa da ação.
Os terroristas são filhos sem pátria, seus pais se submeteram ao regime, saem de uma zona rural, perdem seus costumes, não tem mais identidade. Veremos isso mais profundamente no decorrer dessa analise.
E por último, o que podemos chamar da razão de tudo, se é que um atentado terrorista tem alguma razão está o descontentamento.
Aqui entra a discriminação sofrida pelos jovens, ainda que um deles já na faixa dos 30 anos; a vida num bairro pobre e a indiferença. Isso traz a fúria se não for bem trabalhada. Podemos classificar a fúria como droga, uma vez despertada cria o desejo de mais e mais.
Os jovens eram tornam fundamentalistas e não podemos e nem devemos esquecer que o fundamentalismo é extremamente radical e se transparece por meio da fúria.
É a idéia de que “poderia ser, mas não chegou lá”.
Para os executores do atentado, temos quatro descrissões.
“Eu sou o exército”.
“Eu sou a Guerra”.
“Eu sou o Islã”.
“Eu tenho a resposta”.
No livro A Corrosão do Caráter, Sennett faz um trabalho onde justifica o título. O fracasso, as mudanças constantes e rápidas corroem não apenas o trabalho, mas também o caráter, a família e as expectativas de vida.
Temos o Capitalismo Flexível que podemos identificar na obra em três momentos.
A reinvenção contínua das instituições, a flexibilidade da produção e a concentração do poder sem centralização.
Na reinvenção contínua das instituições há a perda do controle das funções, e consequentemente a perda da noção de tempo linear. Isso afeta o trabalho e a perspectiva de realização pessoal em longo prazo, podendo destruir os sonhos familiares.
A flexibilidade da produção não é somente a diversidade de produtos, mas é também a diversidade de tarefas e na tomada de decisões mais rápidas, mais uma vez temos a interferência na questão do tempo, essas tarefas de curto prazo corroem a fidelidade, a confiança e o compromisso do homem com a empresa, família e comunidade, pois essas virtudes só são construídas em longo prazo.
A concentração do poder sem centralização são as tarefas realizadas em pequenos grupos, e que supostamente levariam a uma maior distribuição do poder de decisão. Transformações contínuas, quase obrigatórias, chegam a todas as partes, a economia e a cultura é tratada da mesma maneira em todo o sistema, pois não há mais barreiras.
Até o momento procuramos fazer uma leitura crítica tanto do texto quanto do livro de Richard Sennett. As duas leituras colocam a família no centro da discussão, pais e filhos em um conflito de idéias e sonhos.
No texto sobre os terroristas a trajetória dos pais, que são muçulmanos é chamada de emigração épica.
Ejaz Hussain foi para a Grã-Bretanha com 16 anos, em 1967, ele e muitos homens do subcontinente indiano vieram em massa fornecer mão-de-obra barata e não treinada. Eram agricultores, pobres e analfabetos. O projeto de vida? Sair da miséria, trabalhar mais de 16 horas por dia para ganhar e construir algo para os filhos e futuras gerações. Queriam ganhar dinheiro suficiente e voltar para a casa, mas trouxeram a família e formaram comunidades fechadas.
Na década de 80 as fábricas e indústrias fecharam as portas obrigando os trabalhadores a dirigir táxis ou partir para o comércio próprio. Alguns têm gratidão pela Grã-Bretanha, mas outros...
O bairro onde os jovens foram criados tem a melancolia no ar e a vida não é fácil, há um distanciamento por parte da comunidade, os mais velhos, porém acham que a vida dos jovens é mais fácil nos dias atuais. Alguns estão na espera para assumir os negócios da família, outros vivem dos benefícios, outros vendem drogas.
Mas para alguns, a vida não está tão fácil como se parece, o trabalho, que antes dava estabilidade aos imigrantes já não existe mais, os jovens, sem essa âncora se sentem desprotegidos e vivem em quartos sem parede. Na escola, foram educados dentro dos padrões britânicos, nunca estudaram sua origem, não estudaram o Islã e suas tradições.
Hussain, o pai, acha que a sociedade é de autodestruição e se pergunta como que os atentados puderam acontecer, é o povo destruindo a si mesmo. Mas também faz uma colocação: “Talvez se tivéssemos prestado mais atenção, isto não teria ocorrido”.
Os muçulmanos já superam os ingleses na venda de drogas e nas prisões, para mudar isso muitos começam a seguir o Islã no seu modelo mais tradicional.
Os que partiram para a religião têm as maiores frustrações. A fé do grupo os colocava em conflito com as escolhas dos pais, um dos filhos de Hussain até acha que a loja do pai viola sua fé, acham que os pais não seguem as tradições, eles querem evidência para o que fazem no Alcorão.
Se quiserem ir para o céu, eles precisam encontrar a forma mais pura, são totalmente fundamentalistas.
Os filhos consideram a trajetória dos pais uma traição.
Na Corrosão do Caráter temos a história de Enrico e Rico, Enrico, o pai, trabalhava como faxineiro única e exclusivamente para o futuro do filho, o trabalho do pai era apenas para a família, até a esposa Flavia entra no mercado de trabalho; nessa geração, o tempo era linear, ano após ano trabalhando em empregos que raras vezes variavam de um dia para o outro, a conquista era cumulativa, toda semana Enrico e Flavia conseguem ver o aumento da poupança, o tempo era previsível, havia um planejamento, uma economia. A vida fazia sentido para Enrico, mas não era fácil, vivia a discriminação e a indiferença da sociedade e não queria que o filho Rico repetisse sua vida.
O filho gosta dos riscos que corre no mercado de trabalho e isso é uma traição para o pai, a escola preparou Rico e sua esposa para as mudanças freqüentes e as trocas de emprego, sua mulher era promovida e ele demitido e assim caminhava, o medo da perda surge e junto dele a falta de controle da própria vida, a maneira de viver não é tão flexível como parece, o pai por exemplo ia a reuniões, via pessoas, o filho vive on-line, já desperta as mesmas preocupações do seu pai. Encara o trabalho para a família, uma família que está em crise pela opressão da autoridade que vai de pai para filho, o pai oprime o filho que oprime o filho, é um círculo vicioso dentro do sistema de trabalho. As qualidades do bom trabalho não são as mesmas do bem caráter, “não há longo prazo”, não existe mais emprego, agora temos o trabalho, o projeto, terceirização, desejo de mudança rápida, tudo isso gera uma crise no caráter.
“O esquema de curto prazo das instituições modernas limita o amadurecimento da confiança informal. Uma violação particularmente flagrante do compromisso mútuo muitas vezes ocorre quando novas empresas são vendidas pela primeira vez. Nas empresas que estão começando, exigem-se longas horas e intenso esforço de todos; quando a empresa abre o capital – quer dizer, oferece ações publicamente negociadas – os fundadores podem vender e pegar o dinheiro, deixando atrás os empregados de níveis inferiores. Se uma organização, nova ou velha, opera como uma estrutura de rede flexível, frouxa, e não com rígido comando de cima para baixo, a rede também pode afrouxar os laços sociais”.
Isso significa que curto prazo é diferente de amadurecimento. Como pode haver projetos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Mudança significa deriva. Rico, o filho é um homem bem-sucedido e confuso.
O que lhe trouxe sucesso, também lhe trouxe o enfraquecimento de seu caráter.
Se fizermos uma comparação entre o texto e o livro, iremos ver que os pais tinham em comum o trabalho visando o futuro dos jovens. Submeteram-se a realizar atividades consideradas do terceiro escalão para proporcionar uma vida digna para as futuras gerações.
Vemos também que isso não é o sonho dos filhos, na verdade os pais queriam realizar os sonhos através dos filhos, isso gera um conflito de idéias e princípios que acaba frustrando a todos.
Esse estudo fez surgir várias dúvidas e pensamentos em minha mente, dúvidas para as quais não tenho respostas.
Podemos concluir que o desejo dos pais não é o desejo dos filhos.

Quanto ao meu caráter. Espero já não ter sido corrompido.