9 de jan. de 2009

O Salão das Putas do Baixo-Augusta

Quem atende as meninas que atendem: o turno da noite na Rua Augusta para quem trabalha.

Lendária, democrática, mistura de todas as faces de São Paulo e de toda sua gente. Durante a noite no Baixo –Augusta chamam atenção alguns salões de beleza que ficam abertos até altas horas da noite.

Minutos antes das 12 badaladas, o Repique entrou num deles e conversou com Léo, o cabeleireiro que atende 'as meninas' da região no salão Giva – R. Augusta 883. Para ele: "quem trabalha em salão aqui na Augusta não fica mais bobo, a gente passa por mil situações que às vezes uma pessoa não passa durante a vida inteira".

Léo, desde quando o salão existe aqui?
O salão está aberto desde 2002, 2003, mas não trabalho aqui desde o começo.

O salão funciona a noite toda?
A gente abre às nove da manhã e fecha uma, duas da manhã, quase 24hs. Fica aberto até esse horário porque a gente atende o pessoal da noite da Augusta. As meninas dormem durante o dia e precisam de alguém para fazer o cabelo e maquiagem pro agendamento da noite.
Achei que fosse para arrumá-las para a 'troca de turno' elas vão lá, trabalham e se recompõem.

Qual o penteado mais popular e oficial aqui?
Escova lisa. Todas fazem o cabelo liso e põem aplique... Acho que até é fetiche dos homens "mulher de cabelo comprido". Às vezes até sugiro fazer uns cachos, mas não tem jeito, elas não topam.


Qual o movimento do salão durante o dia?
De dia é o público das empresas em volta. Mas à noite das meninas, tem muito mais movimento.


Na sua opinião como anda o movimento aqui na Augusta?
De uns cinco anos para cá, mudou demais. Diminui porque a Augusta mudou muito. O público da noite não procura mais garotas de programa. Os homens não procuram mais sexo com elas, não vão atrás de garotas de programa porque tem uma facilidade de pegar mulheres na noite. As mulheres estão mais fáceis. Essa liberdade sexual de hoje diminuiu o trabalho delas. Os caras já nem estão se esforçando mais muito, não. E nem elas. Eles nem precisa cantar tanto. Eles pensem "por que eu vou pagar Se eu posso pegar alguém na noite". E acho que a tendência é piorar.

É barato o programa aqui?
O mais barato delas acho que é R$ 50. Chega a R$ 150 as meninas mais bonitas e selecionadas. Tem bastante.

E onde que elas transam? Vão para hotéis ou motéis?
Transam na boate mesmo. Tem quartinho lá. Os 'American bar' são pista, bar e quarto.

E as baladas aqui da rua? Transformou geral em relação ao que era antes, há cinco anos...
A Augusta está tomada por baladas. Nem sei como classificá-las porque são todos meio parecidos, - Emos, punk, gays, está uma mistura, virou uma bagunça. Não é legal. Antes, essa rua era estrelada, meninas do começo ao fim. Quem está atrás de sexo quer ir atrás de sexo mesmo, não de diversão. Imagina se amanhã ou depois, ali no Jockey Clube (área de travestis de São Paulo) vira um monte de balada. Os caras vão ficar constrangidos de aparecer ou ficar passando com o carro.
Homem tem disso - ele vai e paga, mas não quer que os outros vejam que ele pagou para ter sexo.
E constrange as prostitutas também que não vão ficar de palhaças para qualquer um vir tirar sarro da cara delas. Elas foram embora. A nova geração se agencia pela internet. Outra coisa que diminui o movimento foram as leis da Prefeitura, que fecharam algumas casas.
Você deve escutar muitas histórias por aqui... Qual o sonho delas?
Elas sempre acreditam que vão cantar ou dançar um dia na TV. Sonham em ser modelo. Elas caem na noite e não sei o que esperam. Dentro da boate muitos homens falam que elas são lindas. Homem é cínico e elas acreditam. Se iludem.

E essas roupas nas araras, são para as meninas comprar ou alugar?
Para comprar. Sempre saia curtinha, bota, 'sandaliona' com tiras para usar com shortinho. Bem uniforme de garota. Essas roupas têm histórias.
De repente entra uma das meninas para fazer uma escova e anuncia que tem iPhone de 8gigas por R$ 500 e de 16 gigas, R$ 800...
Léo comenta: Aqui na Augusta a gente compra 'de tudo' também por um preço ótimo. Celulares... Essa daí põe os clientes para dormir e 'azuela'.

Tem muito furto entre as meninas?
São poucas, só umas doidas que vão na onda. É raríssimo. A maioria é bem honesta, trabalho direitinho. São preocupadas com seus clientes, com sua saúde.

Como é com droga por aqui?
Tem muita. É bastante. Tem no puteiro, na balada e no meio da rua. Você sente no ar. Um minutinho e você vê tudo. A Augusta é um lugar onde tem tudo de bom e tudo de ruim ao mesmo tempo.

E vocês atendem muito?
Às vezes umas 20 clientes, das sete à meia noite.
As meninas no geral moram em pensões em volta daqui. Elas não saem muito por aqui. Elas próprias têm preconceito de ir a outros lugares, por exemplo ir no shopping – elas têm preconceito com elas mesmas. Aqui a gente já está acostumado. O salão aqui é bem próprio para elas se sentirem à vontade.
Elas chegam já de saltão, shortinho, fazendo plac-plac-plac, cantando, conversando, fazendo aquela ignorância. Não se constrangem com o que são. Falam o que querem. E em outros salões, quem tem cultura, não necessariamente quer ouvir.

E quanto elas atendem por noite?
Depende também muito do dia. Já vi cliente que já atendeu oito numa noite. E clientes que atendem um. Às vezes essa que atendeu oito, trabalhou a noite inteira e não tirou o que uma atendeu com um só cliente. É o dia da sorte delas, tiram mil, mil e quinhentos reais.

Ah, tem o 'Dia da Sorte'?
Tem o Dia da Sorte, quando pega um cliente ótimo, que passa a noite junto, paga a bebida – elas ganham comissão das bebidas - e no final ainda sai e paga um programa altíssimo com ela. Ela não fez nada, trabalhou super pouco, se divertiu e ganhou dinheiro.

E você que trabalha no salão de beleza da Augusta, aqui beleza conta?
Nem sempre as mais bonitas ganham mais. Conheço umas que são lindas, mas que não trabalham bem.
A noite é uma sorte. Às vezes a menina tem um cheiro, um jeito que conquista o cliente. E outras, que são lindas não têm o que eles procuram. Homens por aqui buscam por fetiches. Beleza aqui não é o importante.

Vídeo-reportagem: Thais Bilenky / Terra Magazine
Fotografia: Marcelo Pereira / Terra
Cinegrafia: Hugo Manoel / Terra

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